27/03/2012

A cidade nova VI

Dizem-me que faz tempo desde o último "A cidade nova". Têm razão. Vou em busca das mudanças dos últimos dias, pra registro e satisfação de quem está longe e quer saber. Ora bem, aí vai!


O roteiro segue o curso do dia. Resgatado o costume civilizado de ter tomadas elétricas na cozinha, todo mundo quer cozinhar. Panquecas na hora do almoço?, pergunta um. Posso preparar um suco? diz o outro. E a todos respondo que sim, imersa num daqueles dias em que tudo é tão, tão relativo. Tudo o que querem fazer conecta-se à rede elétrica, todos felizes com a quantidade de possibilidades pela cozinha. Pena que lavar a louça não precise de eletricidade: teria 4 pares de mãos à disposição para o trabalho sem maiores discussões...




A sala, que não existia, ganhou espaço - a céu aberto, é verdade, mas o certo é que dois dos montes de entulho e terra foram substituídos  pelo chão da sala, contra piso grosseiro onde desenharam um "bem-vinda, Ana!" no fim de semana, ao lado de um "Valdete" que atesta o autor da obra. As colunas ainda lá estão, ferro sem preencher, fantasmas sob o sol do meio do dia. Sento-me a seu lado, disposta a me reconciliar com esse clima estranho desta cidade, que me faz zonzear pela rua se não ando pela sombra. Aliás, é o que me diz Luzia, que encontro de repente no meio da rua hoje cedo, mãe de amiga querida que se foi pra São Luís: "Ana, Ana... ande pela sombra, minha filha". É o que eu tento, respondo-lhe: mas no fundo eu gosto do arder do sol na pele. E me descaio da sombra de vez em quando, como se fingisse estar distraída.



E agorinha, a meio da tarde, fujo de dentro de casa, para dentro do quintal que há nas traseiras, e do qual nem quase falo. A luz que tremeluz por entre as folhas, os verdes que confraternizam no fundo desta casa de cidade fazem-me desapertar a espessura amarga da distância que se criou de repente hoje pela manhã, ao tentar desabotoar uma saudade que já se torna mordente. Não resolve, mas amaina, à espera que o tempo passe. Enquanto trabalho no que preciso.





2 comentários:

  1. Maria Eduarda27/03/2012, 16:23

    Se ocupar com algo que vale realmente a pena, faz o tempo parecer pequeno!! Muito bom!

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