30/10/2012

Intenções

Como o ninho espremido por entre paredes de madeira.
Como as cordas do navio assim que as desamarram do cais.
Como as fibras de sisal que o tecelão bate e liberta.
Como a areia da praia onde os pés brincam antes de desaparecem dentro d'água.
Como a vida que nasce de dentro com um grito, um suspiro, uma queimação que nos retira da  mão da morte.
Como as cartas viradas sobre a mesa, as paredes limpas, os pratos lavados.
Como as palavras que se colam às coisas, para que mais tarde alguém lembre os nomes delas.
Como os livros amontoados pela casa, sílabas abertas na mesa, no chão, na cadeira, na cama.
Como o lado vazio da cama.
Como o lado vazio da alma.
Um vazio.
Para preencher de ninhos e cordas e fibra e areia e vida e cartas e coisas e palavras e livros.


4 comentários:

  1. O comentario anterior era meu Carme

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  2. Até que se aninhe,amarre,escorra,viva,escreva,fale e leia novamente com toda intensidade,para que logo após o efeito sanfona se perpetue ,como um copo que não se mantém cheio por causa de um furo em sua base...

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  3. Todo vazio é espaço à gravidez.
    Nada será tão grave se o tempo
    que nos fecunda gerar mais vida em nós.

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